Ah, se ele soubesse. Eu não pedia calma, eu não pedia amor, eu não pedia nada. Eu pedia nada, pedia nada entre nós. Eu tirei a sua roupa, eu tirei o seu tesão, eu tirei o seu Deus. Ficou só eu e ele, dois homens um de frente pro outro. Mas não bastou.
Por que é que todo mundo tem vergonha de mostrar de si? Quando adormeceu, eu senti os tremores da sua pele indo alcançar o chão. Como segredos que o corpo agüentou o dia inteiro, tesos, e extirpou na terra como catarses musculares antes de adormecer. Eu pegava os tremores e não entendia. Eu não sei ler na escala Richter.
Onde é que está você? Eu ali, lendo espasmos, tentando sentir sonhos e pensamentos como uma cigana fajuta tocando a mão de alguém. Eu não via nada: só via braços, só via pernas, tremendo. Onde é que uma pessoa se esconde, então? Não era dentro dele, eu podia dizer.
Quando aninhei meu corpo ao seu, e coordenei as nossas respirações. Estava certo de que agora falava o seu ritmo. Se fosse poema, saberia entoar os versos e verbalizar as rimas. Mas, meu amor, é prosa... E a respiração pulou as vírgulas e os pontos finais.
Mesmo acordado, olhando nos meus olhos. Um derramando os olhos nos olhos do outro. Não pode, meu olhos transbordariam em lágrimas antes que ele entrasse pupila adentro. Não houve atrito, não houve olhar, não houve sexo que fizesse mágica. Não foi possível saber aquela pessoa.
Ainda que fosse: não saberia dizê-lo.
Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)
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