É nesse momento. Depois que ele estendeu a mão e quis destruir. E fez. Ele que eu nem sabia mais quem era, ele que eu não reconhecia, ele que não me existia. E caíram meus olhos postiços quebrados no chão; caiu minha raiva e caiu meu perdão.
Porque é nesse momento que caem as coisas. Minhas mãos inertes não seguraram olhos, não buscaram perdão, não guardaram raiva. Minhas mãos tão míopes quanto meus olhos. Ficou ali, no chão, na distância entre eu e o nada, o que eu não reconheço mais. Mas a distância entre o nada é infinita, é nula.
Os meus amigos juntaram a armação, mas esqueceram da raiva e do perdão. Assim como o pintor esqueceu de pintá-lo. Ele que eu nem sei mais quem, cuja raiva e perdão estão ali, no chão, para serem entregues.
E é nesse momento. É quando a vida dá uma volta e vira, para testar se você ainda sabe andar. Eu não sei andar. Não esse caminho. Uma brisa vai correndo o chão e levando embora a raiva e o perdão. Espera! Não é certo.
A desculpa existe para ser dada. Mas, diante da brisa correndo, meus pés estáticos e minhas mãos míopes. Parece que o tempo corre e leva tudo embora. Visão, raiva e perdão. Eu ponho a culpa no pintor, então. Porque o perdão não é do desaforo, mas da raiva. E a minha raiva, assim como a cor do outro, a tinta deixou na palheta essa noite. Meu perdão, no chão, míope e perdido, sem propósito algum. Fim.
Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)
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