Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Eu vou, eu vou... Para a Jornada de Dermatologia do Clínicas

Agora eu descobri que não dá para associar itraconazol com diazepínicos, procinéticos e outros, sob risco de arritmias graves e morte! Se o tratamento se extender além de 30 dias, também, podem surgir paraefeitos colestáticos (pele amarelada e urina escura).

Além disso, a terbinafina (que o epidemiologista da Jornada de Dermatologia da UFCSPA disse que, segundo sua revisão, era superior ao fluconazol no tratamento de micose de unha) é mais barata que o fluconazol! Bora pôr em prática.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Flutter¹ de personalidade

É assim, não tem jeito. Quando eu me frustro, eu começo a querer fazer algo, querer chamar atenção. Eu quero o colo de minha mãe, e eu quero as mãos do meu pai. Eu preciso do tempo dos meus amigos e de saber os desconhecidos. É uma necessidade urgente de sê-lo, de puxar a linha da vida fazendo laços que unem o hoje com o que está por vir.

Mas então eu alterno. Minha cabeça tem fusíveis, quando a corrente é grande por um lado, eu penso diferente. Ou vai ver é só herbivorismo da minha parte, de querer ficar sempre na mesma, e aí eu penso em felicidade interior. Mas pode escrever: quando eu penso em felicidade interior e estar bem consigo mesmo é porque eu tô realmente frustrado, hehehe.

E nesse círculo eu fico. Faço projetos legais que não vou levar adiante, invento planos e peripécias. Algumas até são levadas a frente, e, bem ou mal, funcionam. Mas não é regra. Em geral é esse curto circuito de pensamentos, plano, desistência, plano, herbivorismo, plano, plano, plano... E no fim a mesma coisa: inércia.

Alguns dizem que eu sou uma pessoa madura para a minha idade. Que bom, sinal de que eu ainda tenho muitos anos pela frente... Quando eu tiver 30 anos vão dizer apenas que eu sou uma pessoa boa, hehehe. A questão é que eu penso demais e ajo pouco. Então eu fiquei craque nisso: pensar.

Parece que é uma epilepsia, um curto circuito mesmo. Chega a ser engraçado, assim, analisando friamente; contudo, na hora é aborrecido por demais. Você fica pensando, pensando, pensando, e vêm coisas na cabeça, até que você desiste, tenta outras saídas e no fim para tudo, por cansaço mental.

Algumas vezes eu já quis ser daquelas pessoas "nem aí". Destes que sorriem sem ficar se perguntando como o próprio nariz está feio, com as narinas arreganhadas feito pernas de dançarinas de cancã. Ou que não se preocupam se tem uns fiapinhos de sobrancelha saindo do contorno, se o cartão de crédito venceu e você está pagando juros, se tem uma mancha na sua roupa... Ou mesmo se você jogou um plástico no chão.

Ah, não, pra mim não. Para mim, se eu jogar a embalagem de uma barrinha de cereal na rua, ela vai cair no boeiro e, não me pergunte como, causar uma daquelas enchentes que desabrigam milhões de pessoas em São Paulo.

Tá, eu não penso sempre assim, também. Eu não sei de tudo, por exemplo. Embora isso tenha me causado um estresse sem tamanho mais de uma vez durante a faculdade, eu admiti que não conseguiria resolver muitos problemas dos meus pacientes, e que irei cometer muitos erros ao longo da vida.

Bom, depois de tudo isso, acho que deu para perceber que eu não sou uma pessoa obstinada. Que os meus planos não dão certo... Que eu sou praticante assíduo da auto-sabotagem e que, não, não vote em mim para presidente. Mas... Mas não sei. Juro que tem um lado bom nisso tudo. Talvez eu ache, um dia, e termine isso aqui.

1- Flutter atrial é uma arritmia cardíaca causada por um ritmo de reentrada aberrante, formado por um curto-circuito no átrio que gera uma freqüência cardíaca aumentada associada a uma contração atrial ineficaz e aberrante. Apesar disso, a contração ventricular permanece íntegra, devido à filtragem dos estímulos pelo nó átrio-ventricular, embora o débito cardíaco esteja parcialmente prejudicado pela perda da bomba de escorva atrial.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Com franqueza

A voz dela entoou fraqueza para eu ouvir. Com ingenuidade, o seu choro implícito anasalou a palavra para mim: franqueza. Eu desconcertei, me vendo ali em fraqueza. A ingenuidade anasalando a palavra e despindo em mim a verdade que era minha, também.

Ele inventou um final feliz para não me ver chorar. Mas eu chorei mesmo assim, com o desfecho inesperado: a verdade escorrendo no rosto e me anasalando a voz.

Eu fitei nos olhos tentando puxar a paixão. A paixão que é necessidade, a necessidade que todos temos de fugir do amor: que é completo e encara a verdade úmida da vida.

Eu tinha medo de perder. Eu queria manter. Eu queria continuar seco, mas o tempo faz chover nos olhos e enxágua as lembranças de vez.

Ela me disse francamente que tinha medo de morrer. Eu senti fraco: seco e sem voz. Eu também tinha medo que ela morresse.

A vida muda de tom inesperadamente. A nossa mentira é um nexo frágil, a franqueza é inexorável.Nós somos fracos. Apenas alguns são francos. Talvez seja isso: quando você diz a sua fraqueza tão ingenuamente eu enxergo em mim aquilo que eu nunca pude ver - a minha também.

Dói em mim, doeu em você; mas aceitar e ser verdadeiro é inevitável. Será que o medo daquilo que não dá prazer deu mais desprazer do que aceitar o problema?

sábado, 13 de junho de 2009

Formatos

Se depois eu não te vi mais, meu querido
Não, não foi porque eu não quissesse;
Foi porque a poesia, embora pudesse
Ser uma novela, não o houvera sido.

Dor epicrítica

Será que o amor é assim? Será que o amor dói? Eu não sei. Mas entender aquela dor a deixou muito menos desagradável. Quando eu era menino, eu sempre olhava o bisel da agulha perfurando a pele, e o sangue espumando dentro da seringa.

Do amor fugaz

Então foi ali: no meu sonho. Foi no meu sonho que rapidamente entendi a minha dúvida. Quando a senhora me disse que tinha medo de morrer, tão francamente; e eu, tão fracamente, me senti ligado à ela. É isso, é o amor. É saber o outro. Ela me falou sua fraqueza e isso me tocou, porque eu também sou fraco (ainda que não o lembrasse). Eu sabia o que ela sentia, eu sabia quem era ela: era a mim. E a única coisa que eu queria fazer naquele momento era segurar a porta e lhe dar um abraço que só ela, em mim, poderia dar a si mesma.

Dos meus segredos

São coisas, meu amigo, que eu nunca poderia dizer. Quando eu te olhasse: elas estariam ali, nos meus olhos. Estampadas como o brilho da luz na pupila: indescritível. Você apenas saberia que estavam ali. Mas o que eu posso fazer? Se te escondo é porque tenho motivo, é porque preciso. É porque, de certa forma, a vida também é inefável e eu, como péssimo contador de histórias, só poderia dizer metade das coisas: a metade que é mentira. Não briga comigo, não por isso. Se não contei, foi porque não soube como fazê-lo. É uma gema que eu, por não saber lapidar, tive medo de quebrar, e mantive em meio a pedra bruta.

Amor pontual

Abre aspas: ele chegou. Parênteses, três pontos: blá blá blá. Parêntes, ênteses, articulações. Punhos, mãos, lábios. Refrão. Travessão: uh. Travessão: ah. Refrão. Refrão. Parêntes, ênteses, travessão: espera um pouco. Zum. Zac. Slip. Splet. Espera, eu sou rápido. Parênteses, ênteses, articulações. Refrão, refrão, refrão! É prosa. É poesia. Não! Refrão, refrão, refrão! Ahhh. Ahhh. Ahhh. Ahhh. Ahhh. Ah, ah-ah, ahhh. Uh. Uh. Uh. Ahhh... Parênteses recíprocas, três pontos: silêncio. Três pontos: suspiro. Reticências: cá, lá, cá. Fecha aspas: e se foi.

O estranho inefável

Ah, se ele soubesse. Eu não pedia calma, eu não pedia amor, eu não pedia nada. Eu pedia nada, pedia nada entre nós. Eu tirei a sua roupa, eu tirei o seu tesão, eu tirei o seu Deus. Ficou só eu e ele, dois homens um de frente pro outro. Mas não bastou.

Por que é que todo mundo tem vergonha de mostrar de si? Quando adormeceu, eu senti os tremores da sua pele indo alcançar o chão. Como segredos que o corpo agüentou o dia inteiro, tesos, e extirpou na terra como catarses musculares antes de adormecer. Eu pegava os tremores e não entendia. Eu não sei ler na escala Richter.

Onde é que está você? Eu ali, lendo espasmos, tentando sentir sonhos e pensamentos como uma cigana fajuta tocando a mão de alguém. Eu não via nada: só via braços, só via pernas, tremendo. Onde é que uma pessoa se esconde, então? Não era dentro dele, eu podia dizer.

Quando aninhei meu corpo ao seu, e coordenei as nossas respirações. Estava certo de que agora falava o seu ritmo. Se fosse poema, saberia entoar os versos e verbalizar as rimas. Mas, meu amor, é prosa... E a respiração pulou as vírgulas e os pontos finais.

Mesmo acordado, olhando nos meus olhos. Um derramando os olhos nos olhos do outro. Não pode, meu olhos transbordariam em lágrimas antes que ele entrasse pupila adentro. Não houve atrito, não houve olhar, não houve sexo que fizesse mágica. Não foi possível saber aquela pessoa.

Ainda que fosse: não saberia dizê-lo.