Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

E a morte vem

Ontem
uma paciente me
contou que tinha medo
de morrer, e eu
só pude dar um
consolo vazio.
No fundo, eu
acho que eu
também
tinha medo que ela morresse.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Do dia-a-dia

The Flowers - Regina Spektor

The flowers you gave me are rotting and still I refuse to throw them away.
Some of the bulbs never opened quite fully
They might so i'm waiting and staying awake.
Things I have loved i'm allowed to keep
I'll never know if I go to sleep.
The papers around me are piling and twisting regina the paper back mummy
what then.
I'm taking the knife to the books that I own and chopping and chopping and boiling soup from stone.
Things I have loved i'm allowed to keep.
I'll never know if I go to sleep.
Things I have loved i'm allowed to keep.
I'll never know if I go to sleep.

Simplesmente, a idéia de mofar, assim, por dentro não me repulsa.

Mas não há tempo.

Ode to Divorce - Regina Spektor

The food that I'm eating
Is suddenly tasteless
I know I'm alone now
I know what it tastes like

So break me to small parts
Let go in small doses
But spare some for spare parts
There might be some good ones

Like you might make a dollar
I'm inside your mouth now
Behind your tonsils
Peeking over your molars
You're talking to her now

And you've eaten something minty
And you're making that face that I like
And you're going in, in for the kill, kill
For the killer kiss, kiss for the kiss, kiss

I need your money, it'll help me
I need your car and I need your love [x2]
So won't you help a brother out?
Won't you help a brother out?
Won't you help a brother out, out, out, out, out?

So break me to small parts
Let go in small doses
But spare some for spare parts
You might make a dollar
Dollar, might make a dollar

So won't you help a brother out?
Won't you help a brother out?
Won't you help a brother out, out, out, out, out?

So break me to small parts
Let go in small doses
But spare some for spare parts
There might be some good ones

You might make a dollar
(There might be some good ones)
There might be some good ones
(You might make a dollar)
You might make a dollar
(There might be some good ones)
There might be some good ones

domingo, 27 de julho de 2008

Da ressaca

A solidão tardia não é uma música, que estupra o espaço de supetão. Essa ausência é uma morte, que agoniza, antes mesmo, por seu risco potencial. E que mata, na hora certa, aos poucos. É um silêncio que se faz presente devagar, instante a instante, na ausência de vida... Mais abissal.

É um silêncio que ensurdece só quem já teve ouvidos. É mais profundo pelo eco. E vai deixando letargia passo a passo, como apaga uma vela... Aos poucos, em etapas e brasas profundas, em fumaças tênues, mudas, sorrateiras, infiéis.

Quando foi que essa calma chegou? Quando foi que o mar parou, na derradeira ressaca? Por que, com os olhos ofuscados, a noite chegou, assim, tão de repente? Sem noção, sem discernimento... E os pássaros todos dormiram?

O escuro é pior que a visão do estranho. É pior quando o tremor vem sem estímulo, por dentro. Ansiedade muda. E brota, na noite, no silêncio, imenso, surdo e ensurdecedor.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

terça-feira, 1 de julho de 2008

De um amor maior

E se o amor, um dia, implicasse em se desproteger?
Em assumir riscos terríveis?
E se um amor, um dia, exigisse a extinção do medo,
e da proteção?
E se um amor, que não pedisse nem amor...
Precisasse, para ser, que o ser que ama, não fosse o ser que é?



O que seria desse amor?
Quem haveria de amá-lo tanto,
já que não o pede,
para sê-lo?
Quem haveria de amá-lo,
já que não o pede para sê-lo?

domingo, 22 de junho de 2008

Reflexos

Hoje é um daqueles dias bonitos. Tem os dias de vento norte, dizendo "saiam de casa, antes que chova: aproveitem esse sopro quente que eu posso dar"; tem os dias frios e ensolarados, para passeios no sol; tem os dias de verão, para tomar sorvete; os de primavera, para fazer pique-nique; os de outono, para passear pisando nas folhas laranjas, e olhos últimos acenos das árvores, amarelos, contrastando no sol.

Hoje é um outro dia, hoje o céu resolveu brincar de molhar e esperar secar. E o dia amanheceu em todos os lados, por todos os pontos cardeais, de cima pra baixo, de baixo pra cima - refletido na água que a noite deixou, por acaso. Manhã cristalina. Manhã ofuscada. O céu é todo uma mancha, são manchas. O céu é uma poça clara e escura, como se a luz se tivesse derramado em meio à noite. E ninguém sabe onde o sol está, na imensidão clara. Como ninguém sabe onde as estrelas ficam, quando o dia amanhece.

Hoje é o dia mais frio do ano. Não porque não haja sol, para queimar nada e aquecer as horas; não porque a noite fria se fizesse presente, encharcando horizontais; é porque hoje a luz não pára em coisa nenhuma. Nem na nuvem escura o sol parasse: queimou o céu livre inteiro para se derramar; se o ar não é azul: é límpido - e a água não deixa o sol ficar.

sábado, 21 de junho de 2008

Eperdu

Above day holding nest
Both that sheltering and taking posession
One hand outstretched
Trembles its echo


(Cocteau Twins)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Inverno

Faço longas cartas pra ninguém
e o inverno (no Leblon) é quase glacial.
Algo que jamais se esclareceu:
onde foi, exatamente,
que larguei naquele dia, mesmo,
o leão que sempre cavalguei.

Lá mesmo esqueci que o destino
sempre me quis só
no deserto, sem saudades, sem remorços
só, sem amarras, barco embriagado ao mar.

(Adriana Calcanhoto - Inverno)

Pronto, chorei minhas lágrimas de Staphylococcus multirresistente.

sábado, 26 de abril de 2008

Sobre as dores do mundo

Dói. Dói, ué, dói por todos os lados. Em todos os sentidos. De segunda à segunda. De crepúsculo a crepúsculo. Expirando e inspirando. Deve ser uma dor terrível, né. É, excruciante, mas tão presente que às vezes me esqueço dela.

Existe um circuito medular de inibição da neurotransmissão nociceptiva. Funciona pela ativação de sensores de tato e outras sensações, e esses impulsos sobressaem na rota medular, inibindo a sensação de dor (embora o estímulo exista). Existe um circuito análogo no encéfalo.

Deve ser por causa desse circuito que as cócegas são tão divertidas. Deve ser por causa deste circuito que as ilusões são tão tentadoras. Há que se livrar da dor. Eu quero que essa dor suma. Essa dor de amar e não receber amor, essa dor de ser o único a fazer certo, de criar beleza num mundo feio. E daí? E daí? E daí? Vale essa dor?

O que tem de valer a minha dor é a crítica que eu faço. É o meu próprio eu-de-doer, a minha ferida: o meu prendimento. São os meus valores, é a minha estética, a saúde e o meu querer-que-todos-amem. Será que isso vale essa dor? Será que isso vale dor alguma? Será que isso vale pro mundo, ou só pra mim?

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Patinetes

Patinetes

Uma vez, eu lembro, voltaram à moda. Eu estava numa daquelas fases pós-consumismo, em que você encara cada objeto como um aglomerado de moléculas moldado por mãos inescrupulosas. Um monte de átomos que não é diferente de qualquer outro monte de átomos, mas que está ali: especialmente moldado para você, e para lhe custar o dinheiro do mês.

Assim foi com os chocolates. Passaram de vício irracional a lixo racional em um piscar de olhos. Na verdade, acho que não tem jeito melhor de transformar algo em lixo e justificar aversão do que racionalizando. De fato, aqueles brinquedos nem eram ruins. Eu podia ter me divertido com eles.

Dói um pouco pensar que eu achava que eles eram ruins só porque não podia comprá-los. Não porque de fato não pudesse, nem, mais logicamente, porque fossem supérfluos (i.e. pertencentes a um conjunto de coisas que não está no seu padrão). É, padrão, sim. Seria como ter 20 reais. Você pode comprar um shampoo sem sal e desfrizzante... Mas, e o condicionador? Faz sentido ter um só? Mas, repito, dói não porque não era parte do meu padrão da época, ou por qualquer outra razão materialista. Machuca-me porque a razão é assim tão podre, tão parcial e ligada às emoções mais mesquinhas. É triste saber pensar e descobrir que não serve para nada.