Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Sobre as relações

Estou cansado de tangenciar as pessoas, não importa quanta fricção se faça: pode aquecer o corpo, mas não se chega no ponto.

Quero criar vínculos. Não, não como correntes que atam os braços; mas largando âncoras profundas.


domingo, 22 de novembro de 2009

Pontuação

Bom, preciso confessar que eu nunca consegui acabar nada com ninguém. Sinto que nada nunca ficou pronto.

sábado, 21 de novembro de 2009

Tempestade

Choveu tanto que eu achei que a lua ia se molhar.

Mal entendido

Você não ouviu o que eu queria dizer. Não, não, aquilo era apenas palavras. As palavras são só a roupa da idéia, e a minha idéia era que... Bom. Deixa pra lá. Os pensamentos bem são como estrelas cadentes e, nesse instante, aquele já se foi pelo horizonte, como um dia que se perde no oeste. O crítico é que, ao ouvir as minhas palavras e assentir, o presente continuou embrulhado pelas palavras intactas. Você não ouviu o que eu queria dizer; e a nossa sorte mofou dentro das sílabas que você não soube despir.

sábado, 14 de novembro de 2009

Explicação sobre o espaço entre um segundo e outro:

O que não foi, simplesmente não foi.
E ninguém ficou sabendo.

Lindo:

carta nº 9: dos primeiros dias

Ontem os seus olhos doeram em mim. E como pode um olhar doer em alguém uma dor tão limpa, rabiscar de azul o silêncio que estendi pelos cantos no chão? Tive tanto medo de encontrá-los, tive medo de levantar os cílios e eles se deitarem feito um pássaro em tuas mãos tão claras, e descobrires o que eu já não posso evitar. Tive medo de notares o quanto eram indefesos diante dos teus... Por isso, tratei de escondê-los por trás do quadro, dos ferros na janela, da cortina, do tapete, das pétalas, colocando-se diante de minhas pálpebras, enquanto eu falava qualquer coisa para me esconder por trás das palavras.

Mas foi quando eu ainda nem havia dito nada, foi quando eu ainda nem te conhecia, foi na fresta que, por descuido, esqueci aberta... que teus olhos doeram em mim, caíram em mim e me mancharam de tinta. Não sei o que era ali dentro deles, se a minha tristeza ou a tua, mas nunca vi olhos tão claros, nem outros que ofuscassem tanto a minha vida.

Agora eu viro para o lado e não quero mais que o outro me siga, não quero mais que o outro me toque porque tocar as minhas costas é empurrar a manhã para o meio das nuvens, entende? Uma manhã que era toda feita para colher as maçãs, as maçãs que eu enrolaria doces numa forma para te dar. Por isso, quando ele me tocou, duas lágrimas eu aninhei no travesseiro, e escorri com elas, e dentro delas esperei que ele tocasse o meu corpo. Só voltei quando ele acabou.

(por Rita Apoena)

sábado, 7 de novembro de 2009

Técnica

1. ajeite-se na cadeira
2. inspire puxando o diafragma para baixo e a barriga para frente em 3 segundos
3. mantenha 3 segundos
4. expire em 3 segundos
5. inspire levantando os braços e puxando-os para o alto
6. expire abaixando-os e empurrando para baixo
7. boceje
8. sorria


Pronto! Não é bom assim?

Acho que eu só queria um amigo

Mas um amigo não tem braços, nem pernas. Um amigo que não tivesse rosto, boca, pescoço, cabelo... Uma amizade que não tivesse tesão ou mimo. Nem voz. Nem nada. Que fosse só uma amizade mesmo, um amigo: duplo e recíproco entendimento. E para conseguir isso eu apanhei seus braços e suas pernas; mordi sua boca, suguei sua voz, seu pescoço; sumi com seu rosto e o seu cabelo se espalhou. Gastei todo o mimo, e gozei até não haver mais tesão naquele quarto. Estava pronto: um amigo para a noite inteira.