Quando um ser humano olha para outro, pode ver o que quiser. Isso porque as pessoas são como pinturas realistas, cheias de detalhes, tons, coadjuvantes e mais coisas por trás das quais se escondem as pinceladas. Casas, amigos, roupas, sotaques, sujeira, idéias e preconceitos. Não adianta passar um creme esfoliante, nem mesmo ir pelado conversar com alguém, nem mesmo ficar em silêncio.
Eu queria um jeito de simplificar as coisas. Um jeito de expôr o ser, e sumir com o coadjuvante; uma forma de destilar as pessoas. Se eu tivesse chegado na sua casa com a boca branca, tirado as nossas roupas e sentássemos em silêncio um de frente pro outro... Em meio a pensamentos, macacos comendo bananas na nossa mente, será que a minha essência ia encontrar a sua?
E se eu colocasse as mãos no rosto e alguém dissolvesse o cenário em meio a um grito? Se você tremesse ansioso em pinceladas de Van Gogh? Será que eu ia enxergar você? Será que dentro dos seus olhos, um espaço entre as marcas de tinta, ia existir alguém? Será?
Eu queria um jeito de ser fiel à verdade. A verdade faz desenhos que não são expressos em palavras, são idéias acrobáticas, movimentos que os dendritos e axônios não conseguem fazer. A minha verdade e a sua verdade não estão no desenho da pincelada, não estão entre cor e outra, mas dentro da cor. No espaço pequeno e infinito entre dois átomos. Na distância do trajeto dos fótons, da onda-matéria. É gravidade. É grave, tão grave que nós não vemos.
Pode ser que a minha verdade nunca encontre a outra, num quarto fechado, escuro e silêncio. Pode ser que entre o espaço da minha cor e o espaço dentro da outra cor sempre haja um contraste, ainda que tênue. Mas a minha cor vai continuar procurando a outra, caindo em gravidades infinitas e caminhos impossíveis, até que um dia a luz se apague e tudo vire o silêncio mútuo do nosso mesmo tom.
Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)
domingo, 22 de março de 2009
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