Dói. Dói, ué, dói por todos os lados. Em todos os sentidos. De segunda à segunda. De crepúsculo a crepúsculo. Expirando e inspirando. Deve ser uma dor terrível, né. É, excruciante, mas tão presente que às vezes me esqueço dela.
Existe um circuito medular de inibição da neurotransmissão nociceptiva. Funciona pela ativação de sensores de tato e outras sensações, e esses impulsos sobressaem na rota medular, inibindo a sensação de dor (embora o estímulo exista). Existe um circuito análogo no encéfalo.
Deve ser por causa desse circuito que as cócegas são tão divertidas. Deve ser por causa deste circuito que as ilusões são tão tentadoras. Há que se livrar da dor. Eu quero que essa dor suma. Essa dor de amar e não receber amor, essa dor de ser o único a fazer certo, de criar beleza num mundo feio. E daí? E daí? E daí? Vale essa dor?
O que tem de valer a minha dor é a crítica que eu faço. É o meu próprio eu-de-doer, a minha ferida: o meu prendimento. São os meus valores, é a minha estética, a saúde e o meu querer-que-todos-amem. Será que isso vale essa dor? Será que isso vale dor alguma? Será que isso vale pro mundo, ou só pra mim?
Prometido e não cumprido. Meu passado e meu futuro. Tudo vira bosta. Um dia depois, não me vire as costas. Salvemos nós dois: tudo vira bosta. (Rita Lee)
sábado, 26 de abril de 2008
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